Artigos Conjur – “Contrate um Seguro Afetivo antes que seja tarde demais”. Será preciso?

Artigos Conjur
Artigos Conjur || “Contrate um Seguro Afetivo…Início / Conteúdos / Artigos / Conjur
Artigo || Artigos dos experts no Conjur

“Contrate um Seguro Afetivo antes que seja tarde demais”. Será preciso?

O artigo aborda a complexa relação entre afeto e Direito, sugerindo que a monetização dos sentimentos e a ideação de um “Seguro Afetivo” refletem um mercado onde o amor pode ser reduzido a uma transação. A obra questiona a possibilidade de quantificar a dor da perda afetiva e critica a transformação de relações em demandas judiciais, levando à reflexão sobre a dignidade humana e o valor do amor em uma sociedade capitalista. Ao final, provoca uma discussão ética sobre essa transformação e sugere uma nova perspectiva sobre o que significa amar.

Artigo no Conjur

De largada, contudo, posso dizer, a partir da perspectiva do Direito do Conforto, na linha desenvolvida por Charles Melman, que a pretensão imaginária e total do Direito encontra, no campo afetivo, a solução! Felicidade como princípio constitucional, sofrimento humano como injustiça, demandas processuais, decisões apaziguadoras, cumpridas em reais. Quem sabe a moeda, real, aqui possa nos auxiliar a compreender que o real (falo de Lacan) não pode ser apreendido e que o sujeito, dito abandonado, precisa arregaçar as mangas e ir atrás do seu desejo. Postar-se como “coitadinho” (e as palavras dizem coisas, coito diminuto) e reclamar no espaço público reconhecimento do Estado Juiz (substituto paterno ainda?) sua condição de vítima, com direito à reparação, parece enredo perverso. A questão é que para se dizer não o sujeito precisa objetar às almas belas, seduzidas pela promessa de felicidade… A leitura de Freud poderia apontar que depois de vencida a demanda, fixado o valor e cumprida, instala-se o Mal Estar da Indenização. Claro. O sujeito devedor paga (compra o amor) e está liberado da obrigação. Enfim, o enleio perverso (como estrutura) ganha reconhecimento no e pelo Direito: paga-se para não se relacionar. Compra-se o Direito de nunca mais amar!

Quanto custa o amor? E se é amor, mesmo, pode ser vendido? No Direito ocidental, em regra, a realização de uma conduta lesiva material ou moralmente, pode, desde que haja nexo, ocasionar a reparação. E salvo as conciliações em que um pedido de desculpas ou mesmo a renúncia ao direito oferecem uma saída, tudo se troca por dinheiro!

Na era da monetarização dos afetos e triunfo do capitalismo, parece complicado dizer que há coisas para além do dinheiro. Os modernos apontaram esse limite. De todos, quem sabe, até porque prevista da Constituição da República de 1988, a dignidade da pessoa humana possa nos auxiliar. Evidente que o termo não surgiu do nada. Há uma tradição em face da dignidade da pessoa humana. Se partirmos de Hegel, chegaremos em um lugar e se partimos de Kant, em outro. Em sendo ocidentais e kantianos, cabe lembrar que com direitos fundamentais não se negocia, nem se renuncia. Logo, não se pode vender. Se posso vender o amor, por que não posso leiloar esse amor? Quem dá mais… Recentemente houve leilão de virgindades.

Na perspectiva em que tudo possui preço, as novas demandas por abandono afetivo ganharam corpo. Invocadas a partir de uma leitura selvagem da psicanálise, aceitou-se valorar o amor. Precisamos pensar se podemos, via decisão judicial, reconhecer a mora afetiva e quantificá-la. Se a resposta for positiva, então, teremos um grande mercado do afeto, pelo qual se poderá comprar e vender.

Logo mais, ao iniciar um relacionamento, o sujeito precisará fazer um “Seguro Abandono Afetivo”. Sim, caso o segurado finalize esse vínculo e esteja em mora com suas obrigações afetivas — na lógica de que tudo é possível — um seguro o deixaria tranquilo a se arriscar na vida: a lógica do mercado do amor. Quanto a tudo isso, somente podemos dizer não. Claro que do ponto de vista da psicanálise deve-se fazer a distinção entre afeto e amor e os termos não se confundem. Por isso a necessidade do estudo sobre o tema e não se continuar na selvageria do mercado de ilusões em que tudo se troca por dinheiro.

O trabalho de Júlio Braga pode chocar. E talvez seja arriscado lê-lo: nunca se sabe o efeito da superação do politicamente correto no campo do direito. Uma dica a quem preferir não ler, é contratar um seguro a fim de evitar o medo em finalizar um relacionamento afetivo. Cabe lembrar, ainda, que toda demanda é de amor. Dirigida agora ao Estado-Pai. Se ele negá-lo, mais uma vez, assume-se a condição de vítima e ação contra o Estado que não deu a felicidade.

Julio Braga foi arrostado com esse impasse ao ser procurado por um dito “abandonado”. Estudou a questão (até porque analisado e com formação em psicanálise) tendo respondido, do seu lugar e com a ética do desejo, que não proporia a ação. Outro advogado fez o pedido, no eterno romance que a vida não para de inscrever no corpo de quem troca ética, amor e felicidade por dinheiro. Quanto vale o seu amor? Responda-me se for capaz! Atualmente é um novo nicho de demandas judiciais, inclusive com acolhimento pelo Superior Tribunal de Justiça. O nosso papel é dizer que se está errado. Com Júlio Braga tenho pensado em até que ponto o dinheiro pode sacramentar o desenlace entre sujeitos que não sustentam uma postura ética. Ficou curioso? Leia o texto.

A temática da psicanálise será renovada nas XI Jornadas de Direito e Psicanálise do Núcleo de Direito e Psicanálise da Universidade Federal do Paraná, coordenado por Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, em evento nos dias 28, 29 e 30 de maio de 2014, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFPR (veja a programação aqui), tendo como foco as Interseções e Interlocuções da obra “Desonra” de J.M. Coetzee, prêmio Nobel de Literatura e que ganhou versão cinematográfica com John Malkovich (veja o trailer). O evento contará com os psicanalistas e professores nacionais e internacionais (Brasil, Argentina e Portugal).

O convite para o evento e a leitura de Coetzee termina com uma passagem do livro Desonra: “Vou acabar é numa cova, ele diz. E você também. Todos nós. (…) O casamento de Cronos e Harmonia: antinatural. Foi isso que o julgamento se propôs a punir, tirando-se todas as belas palavras. Julgado por seu modo de vida. Por atos antinaturais: por espalhar semente velha, semente cansada, semente que não fecunda, contra naturam. Se velhos comerem meninas, qual será o futuro da espécie? No fundo, essa ser a acusação. Metade da literatura versa sobre isso: jovens lutando para escapar de velhos, em prol da espécie. Ele suspira. A jovem nos braços de outro, desatenta, embalada pela música sensual. País ingrato, este, para os velhos. Parece estar passando muito tempo a suspirar. Lamentando: uma nota lamentosa para se retirar. (…) Vai ficando cada vez mais difícil, Bev Shaw lhe disse uma vez. Mais difícil, mas mais fácil também. A gente se acostuma com as coisas ficando mais difíceis; a gente acaba não se assustando mais quando o que era o mais difícil do difícil fica ainda mais difícil.”

Espero por quem se sentiu angustiado nas XI Jornadas e o livro do Júlio Braga, dentre outros, pode ajudar a compreender o que se passa. Lembre-se de fazer um seguro para se sentir, quem sabe, ainda mais inseguro. Com Gabriel García Marquez pode-se dizer que nada é mais volúvel e improvável que o amor.

Referências

Relacionados || Outros conteúdos desse assunto
    Mais artigos || Outros conteúdos desse tipo
      Alexandre Morais da Rosa || Mais conteúdos do expert
        Acesso Completo! || Tenha acesso aos conteúdos e ferramentas exclusivas

        Comunidade Criminal Player

        Elabore sua melhor defesa com apoio dos maiores nomes do Direito Criminal!

        Junte-se aos mais de 1.000 membros da maior comunidade digital de advocacia criminal no Brasil. Experimente o ecossistema que já transforma a prática de advogados em todo o país, com mais de 5.000 conteúdos estratégicos e ferramentas avançadas de IA.

        Converse com IAs treinadas nos acervos de Aury Lopes Jr, Alexandre Morais da Rosa, Rodrigo Faucz, Gabriel Bulhões, Cristiano Maronna e outros gigantes da área. Explore jurisprudência do STJ com busca inteligente, análise de ANPP, depoimentos e muito mais. Tudo com base em fontes reais e verificadas.

        Ferramentas Criminal Player

        Ferramentas de IA para estratégias defensivas avançadas

        • IAs dos Experts: Consulte as estratégias de Aury Lopes Jr, Alexandre Morais da Rosa, Rodrigo Faucz, Gabriel Bulhões e outros grandes nomes por meio de IAs treinadas em seus acervos
        • IAs de Jurisprudência: Busque precedentes com IAs semânticas em uma base exclusiva com mais de 200 mil acórdãos do STJ, filtrados por ministro relator ou tema
        • Ferramentas para criminalistas: Use IA para aplicar IRAC em decisões, interpretar depoimentos com CBCA e avaliar ANPP com precisão e rapidez
        Ferramentas Criminal Player

        Por que essas ferramentas da Criminal Player são diferentes?

        • GPT-4 com curadoria jurídica: Utilizamos IA de última geração, ajustada para respostas precisas, estratégicas e alinhadas à prática penal
        • Fontes verificadas e linkadas: Sempre que um precedente é citado, mostramos o link direto para a decisão original no site do tribunal. Transparência total, sem risco de alucinações
        • Base de conhecimento fechada: A IA responde apenas com conteúdos selecionados da Criminal Player, garantindo fidelidade à metodologia dos nossos especialistas
        • Respostas com visão estratégica: As interações são treinadas para seguir o raciocínio dos experts e adaptar-se à realidade do caso
        • Fácil de usar, rápido de aplicar: Acesso prático, linguagem clara e sem necessidade de dominar técnicas complexas de IA
        Comunidade Criminal Player

        Mais de 5.000 conteúdos para transformar sua atuação!

        • Curso Teoria dos Jogos e Processo Penal Estratégico: Com Alexandre Morais da Rosa e essencial para quem busca estratégia aplicada no processo penal
        • Curso Defesa em Alta Performance: Conteúdo do projeto Defesa Solidária, agora exclusivo na Criminal Player
        • Aulas ao vivo e gravadas toda semana: Com os maiores nomes do Direito Criminal e Processo Penal
        • Acervo com 130+ Experts: Aulas, artigos, vídeos, indicações de livros e materiais para todas as fases da defesa
        • IA de Conteúdos: Acesso a todo o acervo e sugestão de conteúdos relevantes para a sua necessidade
        Comunidade Criminal Player

        A força da maior comunidade digital para criminalistas

        • Ambiente de apoio real: Conecte-se com colegas em fóruns e grupos no WhatsApp para discutir casos, compartilhar estratégias e trocar experiências em tempo real
        • Eventos presenciais exclusivos: Participe de imersões, congressos e experiências ao lado de Aury Lopes Jr, Alexandre Morais da Rosa e outros grandes nomes do Direito
        • Benefícios para membros: Assinantes têm acesso antecipado, descontos e vantagens exclusivas nos eventos da comunidade

        Assine e tenha acesso completo!

        • 75+ ferramentas de IA para estratégias jurídicas com base em experts e jurisprudência real
        • Busca inteligente em precedentes e legislações, com links diretos para as fontes oficiais
        • Curso de Alexandre Morais da Rosa sobre Teoria dos Jogos e Processo Penal Estratégico
        • Curso Defesa em Alta Performance com Jader Marques, Kakay, Min. Rogério Schietti, Faucz e outros
        • 5.000+ conteúdos exclusivos com aulas ao vivo, aulas gravadas, grupos de estudo e muito mais
        • Fóruns e grupos no WhatsApp para discutir casos e trocar experiências com outros criminalistas
        • Condições especiais em eventos presenciais, imersões e congressos com grandes nomes do Direito
        Assinatura Criminal Player MensalAssinatura Criminal Player SemestralAssinatura Criminal Player Anual

        Para mais detalhes sobre os planos, fale com nosso atendimento.

        Quero testar antes

        Faça seu cadastro como visitante e teste GRÁTIS por 7 dias

        • Ferramentas de IA com experts e jurisprudência do STJ
        • Aulas ao vivo com grandes nomes do Direito Criminal
        • Acesso aos conteúdos abertos da comunidade

        Já sou visitante

        Se você já é visitante e quer experimentar GRÁTIS por 7 dias as ferramentas, solicite seu acesso.